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sábado, 13 de março de 2010

Menino dos olhos

Estou me despindo de todos os resquícios de pudor, de qualquer entrave de sentir. Você foi uma das melhores pessoas que surgiram; do meu céu, uma das estrelas mais brilhantes e eu agradeço ao Pai por cada instante ao seu lado. Mas hoje sem que eu me permitisse, eu fui invadida por recordações. Vendo coisas acontecerem lembrei de quando era eu que estava na mesma situação. 
Lembra do dia que te conheci? Dia iluminado, uma aura divina estava naquele círculo que havia algumas pessoas queridas. Mal sabia eu que uma surpresa tão boa nas medidas de um menino do sorriso cativante estava guardada pra mim. Depois veio aquele outro dia, show histórico, te beijei timidamente na chuva mesmo e depois enquanto tocava aquela música '...eu me permitiria levar por você...'. 
Também teve o dia punk que os corpos balançavam ao som da música libertadora e me livrei do pudor e te abracei bem no meio das pessoas e depois cansados fomos pro cantinho... e eu fui pra sua casa e te dei um beijo de boa noite que até hoje eu me lembro, com muito mais vida do que achava que minha memória permitia guardar. E o dia que te abracei com as pernas enquanto você jogava video game, e deitou comigo pra assistir filme tosco que acabou que... 
Ah teve também aquele dia que vi o nascer do novo ano no chuvisco e você foi o primeiro que eu abracei e te desejei as melhores coisas do mundo e desejei pra mim intimamente, mais ainda, que como o primeiro a ser abraçado, eu tivesse muito de você ao longo do meus dias... E depois te decorei a noite toda; fiz questão de ficar acordada só pra isso; mas me permiti dormir só um pouquinho, que era pra ver se minhas medidas encaixavam no seu corpo, no seu abraço gostoso e quente. 
Fora o dia que você queria que eu tomasse decisões com os copos do bar e eu só sabia olhar e rir, sem reação. E eu me despedi com uma vontade de te sussurrar me leva com você, não importa pra onde. E eu precisei voltar no dia seguinte, só porque as decisões com os copos de café são muito mais legais. Mas suas necessidades fisiológicas falaram mais alto. E aquele dia que senti um ciúme estranho em mim que não deveria ser.
Quando eu aceitei sem questionar muito aquela aposta, eu sempre achava que te conhecia o suficiente. Mas fui ingênua e vi que não sabia quase nada. Porque eu sempre me surpreendo com algo novo em você. Porque você surgiu de forma tão inusitada e tudo o que passamos me deixa uma sensação nostalgica tão gostosa, e não de perda, como seria o normal em outros casos. Porque com você eu tive contato com sentimentos e sensações que não haviam em mim até então. Porque com você eu mostrei minha alma. Porque com você eu nunca me magoei, e mesmo com o afastamento eu nunca me senti longe de você. Porque eu tinha medo de que minha memória e retina fatigadas esquecessem com o tempo como é o contorno entre seu ombro, pescoço e orelha. Porque eu tenho medo de me acabarem as palavras e o fôlego sem conseguir transmitir com fidelidade tudo o que me passa e que eu sinto, numa ligação direta, de mim pra você. Porque eu não quero que chegue o dia que eu verei o universo e não mais lembrarei de você. 
Porque eu quero fazer tudo o que não tiver ao meu alcance pra te mostrar a sua real importância pra mim, nem que pra isso eu tenha que te construir um universo, do jeito que você sonhe. E qualquer esforço que eu faça, eu vejo que compensa, só com as coisas que você faz. 



'Espero poder estar atento pra lhe ouvir falar as coisas que eu não entendo...'



Ouço sua banda, suas músicas; todas parecem que tem você falando algo que eu não consigo ouvir, só com o coração. O que me fez vir até aqui é porque como um turbilhão, eu fui invadida e eu lembrei muito de tudo o que descrevi, todos os momentos. E confesso que agora, neste instante, no dia treze de março de dois mil e dez, às seis horas e vinte e um minutos da manhã, enquanto vejo o dia clarear no chão do meu quarto e uma lágrima percorre o caminho entre olhos, boca e  coração, e ouço a música Espero, me deu muita vontade de me teletransportar pro seu lado, enquanto você dorme mesmo, te dar um beijo de leve, como uma brisa enquanto seu cheiro me abraça e fechar os olhos e mesmo assim saber que você está pertinho. E eu senti uma falta enorme de como o seu beijo parece dissolver o meu corpo todo em pedacinhos, e de como a sua respiração me esquenta e esfria inteira. Senti falta tão grande da sua voz linda. Senti falta dos seus olhinhos de frente pros meus, e do jeito que eles ficam me dizendo milhões de coisas. Me senti meio perdida, meio avulsa. Eu queria agora me encaixar de novo contigo, só para ter a sensação de que tudo faz sentido outra vez. Eu amo você.